HÁ AMARGO E MAR, HÁ IR E VOLTAR
Novos episódios. Desta vez, não é uma viagem, é uma aventura, com o mesmo formato daquela que me levou a criar este aventurário. Depois do Império do Tédio, uma cultura oposta, talvez o verdadeiro negativo da cultura finlandesa. Mas Angola pode esperar. Por enquanto, apetece-me ralhar com Portugal.
Na Finlândia, foi crescendo em mim o sentimento de que o país que me viu nascer era o melhor país do Mundo para viver, mas acrescento agora a este lema um pormenor: é o melhor país do Mundo para se viver, mas um dos piores para se trabalhar. Grande apaixonado pela arte tuguesa de viver o momento, da sua espontaneidade e desenrascabilidade, trabalhei cinco anos numa jaula de desorganização e enviesamento de prioridades, de hierarquias pomposas e colegas e-maileses e youtubeiros. Ficou-me forte um episódio repetido da minha curta carreira profissional, onde ouvi por duas vezes zangados chefes irritados comigo: "Mas quem é que manda aqui afinal, ó Sarmento, és tu?!?". Das duas vezes, não percebi. Fiz um Mea Culpa e aprendi a ouvir, a ir com calma, a passar as iniciativas no crivo das hierarquias, porque talvez poderia haver alguma coisa errada com a minha atitude. Enruguei a testa durante anos à procura da resposta anti-envelhecimento. Hoje concluo com firmeza que se calhar não há nada de errado com a minha atitude. Talvez seja um peixe de mar em ambiente doce, salmão a fazer frente a uma forte e contrária corrente. Nas margens ursos atentos: quando tento saltar - clac - barulho de dentes.
Ainda assim, não deixo de sentir uma certa vergonha neste discurso. Ninguém melhor do que um Tuguês para desenvolver teorias sobre a mentalidade menos boa da Tugolândia e dos Tugoleses. Toda a gente tem teorias. Toda a gente se acha diferente. E todos contribuímos e fazemos parte de uma parte do problema. Somos as próprias pessoas que criticamos no nosso próprio "só neste país", no nosso rotineiro "vai-se andando". Não mais criticarei, prometo. Agora, Luanda.
Talvez um pouco amargo com Portugal, resta-me esperar que a Saudade venha em meu auxílio, e que o tempo venha justificar mais um exílio.
Amigo, acredita desde já que esse emaranhado de emoções em relação ao nosso adorado Portugal só se adensa com o tempo passado fora, com a idade e com as experiências vividas em países mais e menos desenvolvidos.
No fim ficam a paixão incondicional e, por incrível que pareça, a aceitação.
Grande abraço
Grande Nuno!!
Pois acho que melhor que ninguém percebes esta dualidade de emoções. Mas este discurso é daqueles que têm conotação de desabafo. Mas sim, preciso de chegar à fase de aceitação, se bem que é preciso sair de lá para aceitar aquela mentalidade. E acho que isso acontece porque a saudade arruma tudo a um canto.
Grande abraço para ti e para tua família!!!