CRÓNICA METEOROLÓGICA
Helsinki, mês de Outubro.
Está frio. Aquele frio que não permite falar, só deixa tremer. O vento sopra de tal maneira que em cem metros deixamos de sentir a cara. Lembra uma ida ao dentista, quando, depois de uma anestesia na gengiva, deixamos de sentir as bochechas.
Às 6 da tarde já está escuro, mas também não interessa porque de dia o sol está coberto por nuvens cinzentas, e raramente se vê. Faz lembrar o dia mais depressivo do Inverno lisboeta, um dia frio, chuvoso e escuro em que sol veio visitar mas não pôde ficar. Dias só preenchidos por um chamativo cheiro a castanhas assadas embrulhadas em papel jornal.
Na rua, as caras fecham-se cada vez mais, os olhares fixam-se no chão, os risos e os sorrisos tornam-se raros. Sente-se um povo diferente emergir e o frio humano a voltar. Prepararam-se para um hibernar emocional, talvez.
O inverno finlandês ainda não chegou e os dias ainda não são dos mais curtos. A temperatura não acabou de descer, a chuva ainda agora comecou a cair. E assim, estou na espectativa. Será que o meu sangue quente chega para não hibernar? Porque para mim, o pior não é o escuro constante, nem a geada matinal. Não é a chuva monótona nem o frio cavernal. O pior é ninguém me vender uma dúzia de castanhas embrulhadas num jornal.
Não há frio que deite abaixo o Sarmento!
Beldroega, sabes tão bem.