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Memorial do Sarmento: שלי הפסחא

terça-feira, abril 10

שלי הפסחא

Este ano a minha Páscoa foi diferente. Não só por estar noutro país mas por estar a trabalhar para uma empresa israelita. Aqui, como em Israel, celebrou-se a Pessach, a fuga do Judeus para a Terra Prometida.

No meio de um país africano, tive uma Sexta-Feira Santa e judia. Sentado à mesa entre mais de uma centena de judeus, vi pessoas do mundo inteiro que Israel albergou por partilhar a mesma religião. Dá-nos um lição de tolerância racial, em torno de um conceito mono-religioso, tipo um gelado que pode ser de todas as cores, desde que saiba a baunilha.

A celebração passou-se entre uma variedade de petiscos ditos religiosos, onde cada uma significava alguma coisa. Algumas eram amargas, porque vinham relembrar os anos de escravatura no Egipto; o pão não tinha levedura porque reza o Livro do Êxodo que caiu um pão sem esse ingrediente do céu, para ajudar a fuga do Povo de Israel. E assim fui provando a mitologia judaica, ao sabor de um bom vinho israelita que lembra o Douro do nosso vinho.

O rabino entoava cânticos e liderava a cerimónia. com o seu serviço mexido e descontraído. Era muito jovem e fazia parte de um dito movimento que acredita que as regras dos rituais devem ser mais amenas, com o objectivo de reaproximar os israelitas à prática dos rituais judaicos. Celebrou a Pessach meio em modo Gospel, meio em modo Rockstar. Foi de consenso geral que ele queria agradar a todos sem agradar a ninguém em particular, e nem por isso gostaram do serviço. Eu, que tinha jogado Ping-Pong com o rabino no dia anterior, achei que o serviço dele era excelente.

De resto, havia uns israelitas mais religiosos, outros menos e alguns nem por isso. A celebração teve contornos animados, num ambiente multi-cultural que burburinhava constantemente durante as orações, à medida que os presentes se deleitavam com a simbologia gastronómica.

Assim passei mais uma Páscoa longe da minhas tradições, atento  espectador de carimbo invasor. "Melhor que nada", atira o optimismo. O dia relembrou-me que a religião é uma herança histórica. Não cabe a nós percebê-la, discuti-la ou dissecá-la: é um calor cultural que ultrapassa a sua simbologia e fica aquém do seu significado. Se explicássemos com uma imagem o que é uma celebração religiosa, vir-nos-ia instantaneamente à cabeça não só o ritual de fé, mas as pessoas com quem rimos e celebramos. E esta é sem dúvida a religião mais universal do Universo.